sexta-feira, 24 de outubro de 2008

semelhanças cosmológicas

Shiva é um dos que compõem a trindade hinduísta. Ele anda com os demônios, se transfigura em mendigo, está à margem. O pai de sua futura esposa, Parvati, não queria que a bela donzela se casa-se com o estranho Shiva. Mas o casamento aconteceu.
Exú é o orixá mensageiro, faz a ligação do mundo terrreno com o espiritual. Aqui no Brasil foi sincretizado com o Diabo e isso vale muito para nosso texto. Shiva controla a serpente, é o deus do sexo tântrico, da fertilidade portanto. Exú é a "manifestação fálica", carrega um falo, portando também está ligado à fertilidade. Os dois expressam uma força ambígua. Os dois, para nós que escrevemos, trabalham com energias densas. Falamos de energias densas aqui como contrapostas às energias sutis. Jamais trabalharemos com o maniqueísmo contruído através de séculos, a saber, o bem e o mal.
Os dois tem um papel muito parecido, que está ligado à áreas que o ser humano tem receio de trabalhar. Para a descontrução do maniqueísmo imposto ao longo dos séculos citamos que Exú, em Cuba, é sincretizado com Jesus. Os dois fizeram a ligação do mundo espiritual com o terreno. Mas deixa pra lá...
A questão está em Exú e Shiva. Os dois trabalham com a densidade, são símbolos da fertilidade e executam um papel ambíguo em suas respectivas cosmologias. Por que não trabalhar com a hipótese de que os dois estão muito próximos no astral, ou ainda, mais abusadamente falando, que seriam a representação de uma mesma força em cosmologias diferentes?

horizontalidade

Um amigo. Coisa rara na humanidade. Falo de um amigo de verdade, onde as energias confluem para uma relação frutífera. Tal relação seria de tal forma que os dois horizontalmente aprendem. Nada de mestres, nada de discípulos. A relação não precisa ser vertical. Mestres comandam a mente alheia. Numa relação horizontal há liberdade e aprendizado. A rua, muito mais que a escola, é o lugar onde nos deparamos com o conhecimento, com a sabedoria. Por mais que a comunicação humana seja falha e limitada, na relação face a face aprende-se muito, e muito mais que nos livros.
Talvez seja a empatia, talvez a cumplicidade contruída. Talvez seja regate de relações de vidas passadas. Mas tudo isso não importa. As amizades contróem conhecimento e conhecimentos que se guardam para o resto da vida.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

As cidades em Jacques Lévy e Calvino

“Jamais se deve confundir uma cidade com o discurso que a descreve. Contudo, existe uma ligação entre eles. A mentira não está no discurso, mas nas coisas”.

Capítulo 1_ A cidade é uma criança.

O verdadeiro valor desta oração não se encontra simplesmente na metáfora que a encerra, mas em outro aspecto da sua comparação entre os termos: a dificuldade de definição de qualquer um dos dois conceitos (“cidade” ou “criança”) enquanto objeto de pesquisa, embora, paradoxalmente, possamos afirmar que a respeito de ambos alguma coisa se sabe sobre o que é. São então dádivas envenenadas; quando dizemos “criança”, há constituída na história do pensamento uma facilidade aparente com a qual poderíamos recortar empiricamente o objeto e o mesmo se pode afirmar em relação à “cidade”, o que tem tornado conveniente a expressão de um simples postulado de existência do urbano como ponto de início para uma discussão sobre um conceito de cidade, já que ninguém sonharia em contestá-lo.

“Com essas notícias não falaria da verdadeira essência da cidade: porque, enquanto sua descrição desperta uma série de desejos que deverão ser reprimidos, quem se encontrar uma manhã em seu centro será circundado por desejos que despertam simultaneamente”.

Capítulo 2 _ Breve diálogo entre Jacques Lévy e Paul Vidal de La Blanche.

“A cidade é redundante: repete-se para fixar alguma imagem na mente. A memória é redundante: repete os símbolos para que a cidade comece a existir.”

Jacques Lévy : Mas o que é uma cidade?
Paul Vidal de La Blanche: Vá ver na América.
Jacques Lévy: Se formos lá, encontraremos coisas paradoxais.
Paul Vidal de La Blanche: Se quisermos ver a vida urbana, entregue a ela mesma, agir em toda a sua força, é antes para os Estados Unidos que é preciso olhar. Uma civilização singularmente exclusiva.
Jacques Lévy: Exclusiva de quê?
Paul Vidal de La Blanche: Mantida na Europa, a “cidade” seria então desamparada na América.

Cidades visíveis
Para encontrar o objeto “cidade” eu proponho, uma vez não é costume, um desvio pelo empirismo. (Jacques Lévy)