segunda-feira, 20 de outubro de 2008

As cidades em Jacques Lévy e Calvino

“Jamais se deve confundir uma cidade com o discurso que a descreve. Contudo, existe uma ligação entre eles. A mentira não está no discurso, mas nas coisas”.

Capítulo 1_ A cidade é uma criança.

O verdadeiro valor desta oração não se encontra simplesmente na metáfora que a encerra, mas em outro aspecto da sua comparação entre os termos: a dificuldade de definição de qualquer um dos dois conceitos (“cidade” ou “criança”) enquanto objeto de pesquisa, embora, paradoxalmente, possamos afirmar que a respeito de ambos alguma coisa se sabe sobre o que é. São então dádivas envenenadas; quando dizemos “criança”, há constituída na história do pensamento uma facilidade aparente com a qual poderíamos recortar empiricamente o objeto e o mesmo se pode afirmar em relação à “cidade”, o que tem tornado conveniente a expressão de um simples postulado de existência do urbano como ponto de início para uma discussão sobre um conceito de cidade, já que ninguém sonharia em contestá-lo.

“Com essas notícias não falaria da verdadeira essência da cidade: porque, enquanto sua descrição desperta uma série de desejos que deverão ser reprimidos, quem se encontrar uma manhã em seu centro será circundado por desejos que despertam simultaneamente”.

Capítulo 2 _ Breve diálogo entre Jacques Lévy e Paul Vidal de La Blanche.

“A cidade é redundante: repete-se para fixar alguma imagem na mente. A memória é redundante: repete os símbolos para que a cidade comece a existir.”

Jacques Lévy : Mas o que é uma cidade?
Paul Vidal de La Blanche: Vá ver na América.
Jacques Lévy: Se formos lá, encontraremos coisas paradoxais.
Paul Vidal de La Blanche: Se quisermos ver a vida urbana, entregue a ela mesma, agir em toda a sua força, é antes para os Estados Unidos que é preciso olhar. Uma civilização singularmente exclusiva.
Jacques Lévy: Exclusiva de quê?
Paul Vidal de La Blanche: Mantida na Europa, a “cidade” seria então desamparada na América.

Cidades visíveis
Para encontrar o objeto “cidade” eu proponho, uma vez não é costume, um desvio pelo empirismo. (Jacques Lévy)

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